quarta-feira, 31 de julho de 2013

Peixes Anuais da fauna gaúcha ameaçados de extinção

Endêmica do Rio Grande do Sul
Criticamente em Perigo
Fonte: www.biodiversidade.rs.gov.br
Os peixes anuais são definidos como um grupo de Cyprinodontiformes que habitam ambientes aquáticos temporários na América do Sul e nas savanas e desertos da África (COSTA, 1996; 2008, WOURMS, 1972), pertencentes à família Rivulidae, o seu ciclo de vida é curto, seu crescimento é rápido, atingindo a maturidade sexual cerca de dois a três meses após o nascimento.

Esquema do ciclo de vida de um peixe anual.
Fonte: www.aquaflux.com.br
Tais peixes não são encontrados em outros ambientes aquáticos permanentes, tendo desenvolvido ao longo de milhões de anos de evolução, hábitos especializados para a sobrevivência em locais que secam.
 
Endêmica do Rio Grande do Sul
Ameaçada
Fonte: www.biodiversidade.rs.gov.br
Eles estão entre os mais belos animais da fauna gaúcha.O grupo caracteriza-se ainda pela diversidade e pelas cores, assim como o pequeno porte (entre três e sete centímetros de comprimento).


São assim conhecidos por viverem em coleções temporárias de água e produzirem ovos resistentes à dessecação, que são enterrados durante o ritual de cópula e eclodem, em sua maioria, no próximo período chuvoso.


Banhado temporário no pampa.
Fonte: www.sekweb.org
Esses ovos passam por um período conhecido como diapausa, que vem a ser o período de dormência espontânea, com interrupção das atividades de desenvolvimento, no embrião.

Ovos colocados no lodo entrarão em diapausa durante o período seco.
Em se tratando destes peixes, na prática a diapausa pode ser encarada como o período que os ovos fazem sua embrionagem, devagar e de forma bem lenta e gradativa, os embriões irão se formando (e transformando) no interior dos ovos até atingirem um estado de “quase eclosão”. Esse estado pode durar poucos dias ou até meses, normalmente uma mudança de condições do meio, como o início das chuvas na grande maioria dos casos, levam os ovos a sair desse “torpor” e entrarem num estado de eclosão.

Há locais no nordeste do Brasil onde o sertanejo explica o fenômeno como geração espontânea de peixes nas nuvens, durante o período chuvoso, por isso são popularmente conhecidos como “peixes-de-nuvem” (Carvalho,1957). Entretanto, conforme documentado em notas de campo pelo naturalista Alfred Wallace, quando esteve no Brasil no século XIX, indígenas da Amazônia explicavam o fenômeno de maneira similar.

As poças permanecem com água durante o período de chuvas, quando os peixes rapidamente atingem a maturidade sexual e desovam. Conforme a estação seca se pronuncia, todos os indivíduos da população pouco a pouco morrem, mas os ovos depositados no fundo das poças, geralmente envoltos pelo substrato, permanecem vivos.

No entanto, as mesmas características que tornam estes peixes aptos a viver nesses efêmeros ambientes, também os tornam altamente vulneráveis aos vários tipos de impactos a que seu hábitat está sujeito. Assim, algumas espécies endêmicas do Rio Grande do Sul se encontram na categoria de ameaçadas de extinção.
 
Espécie ameaçada
www.biodiversidade.rs.gov.br
Ameaçada
www.biodiversidade.rs.gov.br
A baixa plasticidade ecológica e as pequenas áreas de distribuição, aliado ao fato das áreas alagadas estarem sendo drasticamente destruídas, fazem com que a maioria dos rivulídeos se encontre incluídos em listagens de espécies ameaçadas (Costa, 2002).

Ainda que a maioria das primeiras espécies brasileiras tenha sido descoberta na região Sul, no início do século XX, apenas agora a real diversidade começa a ser conhecida. Dois dos três gêneros que ocorrem nessa região, Austrolebias e Megalebias , não são encontrados em outras regiões brasileiras, mas em área adjacentes no Uruguai e Argentina, além do Chaco, no Paraguai e na Argentina (Costa, 2002).

O terceiro gênero, Cynopoecilus, ocorre no sistema lagoa dos Patos e drenagens costeiras do sul do Brasil e Uruguai. Austrolebias possui uma alta diversidade, com várias espécies do Uruguai não descritas. Megalebias constitui um dos dois gêneros da família com os maiores representantes, chegando a cerca de 20 cm de comprimento total. Cynopoecilus compreende espécies de pequeno porte que se caracterizam por possuírem fecundação interna.

Todos são geralmente encontrados em pequenas e rasas poças temporárias adjacentes a córregos e rios. Espécies de Austrolebias e Cynopoecilus nadam à meia água, enquanto as de Megalebias se mantêm próximas ao fundo. Acredita-se que estas últimas se alimentem de indivíduos de espécies simpátricas de Austrolebias.

Em geral, espécies de Austrolebias e Cynipoecilus são extremamente abundantes nas áreas onde ocorrem, tanto com numerosos indivíduos em uma mesma poça como em várias poças vizinhas, algumas vezes ao longo de quilômetros de extensão.
A partir da década de 1960, o governo brasileiro começou a incentivar amplamente o plantio de arroz no Estado do Rio Grande do Sul. Com o crescimento da orizicultura no extremo sul do Brasil, aumentou também a superfície desses ambientes aquáticos afetados por obras de irrigação, canalização e drenagens, sem que houvesse qualquer planejamento paralelo visando à conservação de remanescentes de áreas úmidas (Fontana et al., 2003).
 
Ameaçada - vulnerável
www.biodiversidade.rs.gov.br
O principal fator de destruição dos biótopos dos peixes anuais da região sul é a cultura do arroz. O emprego de máquinas para preparar as terras nas várzeas dos rios e córregos, justamente e onde estão situadas as poças, acaba com a estrutura física original do ambiente, o que provoca mudanças na qualidade da água, causando, assim, o desaparecimento das mesmas.
 
Criticamente em perigo
Há hoje, um total de dez espécies descritas na região Sul. Uma espécie, Megalebias prognathus (Amato), não foi incluída, pela inexistência de registros para o Brasil. No entanto, por ter sido coletada no Uruguai junto à fronteira com o Brasil, é bastante provável que seja encontrada na região do Chuí, onde há uma série de ambientes propícios para a ocorrência de peixes anuais.

Ressalta-se que 30% de toda a ictiofauna ameaçada de extinção no Estado do Rio Grande do Sul pertencem à família RIVULIDAE (REIS et. al. 2003).

No Bioma Pampa do Brasil (localizado inteira e exclusivamente no RS) esses peixes estão representados pelos gêneros Austrolebias e Cynopoecilus e a maioria das suas espécies são endêmicas desse território, no Rio Grande do Sul e demais regiões pampeanas do Uruguai e da Argentina, onde as áreas úmidas temporárias inundam-se no outono e permanecem com água somente até o fim da primavera, secando completamente no resto do ano.

Principais ações recomendadas:

* Proteger e recuperar os remanescentes de hábitat da espécie, quando possível através da criação e pequenas unidades de conservação.

* Divulgar amplamente a importância dos brejos e banhados para a conservação da fauna nativa em campanhas e programas de educação ambiental.

Resumo elaborado pelas acadêmicas:
Júlia Gaviraghi Brustolin e Bruna Albino
Prática Pedagógica
Disciplina Biologia Celular, 2013.

Referências Bibliográficas

Costa M. Aquaflux Aquarismo e Aquapaisagismo. Killifishes Anuais. Disponível em: http://www.aquaflux.com.br/conteudo/artigos/killifishes-anuais.php Acesso em: 22/05/2013 

Costa, W. J. E. M. Peixes anuais brasileiros: diversidade e conservação. Curitiba: UFPR. 2002. 

Fontana, C. S.; Bencke, G. A. & Reis, R. E. (eds.). Livro vermelho da fauna ameaçada de extinção no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2003. 

Instituto Pró Pampa Projeto Peixes Anuais do Pampa Disponível em: http://institutopropampa-ippampa.blogspot.com.br/p/projeto-peixes-anuais-do-pampa.html. Acesso em 22/05/2013. 

Projeto Biodiversidade RS. Disponível em: http://www.biodiversidade.rs.gov.br/portal/index.php?acao=especies_ameacadas&tipo=1&id=107. Acesso em 22/05/2013. 

Volcan, M. V. Ocorrência, Distribuição e Conservação de Peixes Anuais
(CYPRINODONTIFORMES, RIVULIDAE) No Município de Santa Vitória Do
Palmar, RS. Disponível em: http://www.ufpel.edu.br/cic/2006/resumo_expandido/CB/CB_01382.pdf. Acesso em: 22/05/2013.

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